Uma vez que esta matéria, segundo a opinião de vários Camaradas que se pronunciaram sobre o Livro FARDA OU FARDO? - AQUÉM E ALÉM-MAR EM ÁFRICA, é também, pelo seu conteúdo, pertença da Companhia de Caçadores 2506, aqui se inserem várias reações escritas recebidas (para além das verbais, manifestadas quer diretamente quer via telefone), algumas das quais de Camaradas de Armas de outras Unidades e inclusive em outras fases temporais.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
De: Acácio Sampaio - Camarada da Companhia de Cavalaria 2500 do Batalhão de Cavalaria 2870
Dois
flashes obtidos na minha caminhada pelos meios militares com o Carlos Mota
A nossa amizade é muito anterior aos
caminhos que percorremos – tal está descrito no seu livro FARDA ou FARDO?, pelo que me dispenso de outros
considerandos.
O Carlos Mota foi, desde sempre, meticuloso
na observação dos factos da vida real, mas também visionário dos tempos que se
seguiriam, dos problemas que se colocariam/que se poderiam colocar, das
soluções para os mesmos. Relembro, a propósito, o episódio da bússola, mais que
suficiente comprovação do seu modo de estar.
Mantenho presentes dois factos que,
repetidamente ao longo dos mais de quarenta anos após regresso, tenho citado em
variados contextos e que não estão relatados no livro.
O primeiro aconteceu na especialidade,
no 1º Grupo de Companhias de Administração Militar, na Póvoa do Varzim.
Aqui, um dia, diz-me o Mota: eh, pá,
para o ano (1969) é tempo de rendição de batalhões em Angola; soube que as
mobilizações vão começar por Angola, portanto não temos interesse em ficar com
boa classificação no curso para podermos dos primeiros a ser mobilizados, e
irmos para Angola. E dito isto, começámos a “trabalhar” para uma classificação
honrosa, isto é, que não desse direito a chumbo.
Assim o disse, assim aconteceu! Acabado o CSM, fomos mobilizados para Angola!
Eu, para o Batalhão de Cavalaria 2870, ele para o Batalhão de Infantaria 2872.
Facto curioso do nosso CSM: o
Piçarra, do Porto e nosso Condiscípulo na Escola Comercial Oliveira Martins, e
o Arocha, de Setúbal, instruendos aparentemente aplicados, ficaram posicionados
nos dois primeiros lugares, e ao que me disseram na altura, foram mobilizados
para a Guiné em rendição individual.
O segundo aconteceu no tempo que
medeou entre a mobilização e a nossa inclusão nos respectivos Batalhões.
Éramos vizinhos no nosso Bairro de
S. Roque, pelo que nos encontrávamos frequentemente. E numa conversa
pré-embarque, diz-me o Mota: leva uma camisola de lã, de gola alta, porque pode
fazer-te falta.
Surpresa a minha, e depois da minha
Mãe, quanto à sugestão… camisola de lã, de gola alta, para Angola, para
África??!!
Pelo sim, pelo não, lá levei a
camisola, feita à última da hora.
Chegados a Angola, foi o meu
Batalhão destacado para as Terras do Fim do Mundo, Cuando Cubango (zona a que o
Mota acabaria por ir parar em reforço do 2870), onde “cheirava” ao deserto da
Namíbia.
E na verdade a dita acabou por ser
de grande utilidade nos longos períodos de frio do inverno local, em que a água
gelava e só era satisfatório o tempo entre as onze da manhã e as quatro da
tarde. Foi útil para mim, mas especialmente para os Camaradas Furriéis que a
requisitavam quando convocados para operações.
Que fique para memória futura de um
Amigo, Vizinho, Condiscípulo nas lides escolares e Camarada de Armas, do traço de
personalidade que o leva a ir fazendo hoje, ainda hoje, o filme do amanhã!
Um grande abraço,
Acácio Sampaio
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--------
De: Jaime Froufe Andrade - Ex-Alferes Ranger, com Comissão cumprida em Moçambique e que viveu os momentos quase fatídicos do Vera Cruz, ao largo de East London (RAS) aquando do regresso em fins de 1970, facto citado no Livro
A
farda ou o fardo?
Acaba
de surgir mais um livro sobre a nossa guerra em África escrito por
quem lá esteve, no caso Carlos Jorge Mota.
«Farda
ou Fardo? Aquém e Além-Mar em África", é o título, epígrafe
que de algum modo anuncia caminho pouco habitual, raro mesmo, por se
afastar do roteiro clássico da crueza do combate, da
espectacularidade das acções militares e preferencialmente apostar
em terrenos
mais férteis por serem muito menos cultivados.
O
caminho destas narrativas, de escrita fácil e desenvencilhada, é
todo o percurso interior do jovem miliciano antes de ser "mobilizado"
para a guerra, depois de o ser, já em África e de novo em Portugal,
agora em tentativas sucessivas de interpretação de si próprio,
diferente que se vê pela acção da guerra.
Tratando-se
naturalmente de experiências pessoais, por isso mesmo irreplicáveis,
o autor, no acto do lançamento do livro, foi o primeiro a reconhecer
que esse mapa onde cartografou a sua geografia interior é certamente
idêntico em muitos dos seus contornos aos de milhares e milhares de
outros jovens que passaram pelo mesmo tipo de realidade. Vítimas do
mesmo magma circunstancial, serão esses os primeiros a entender o
que se passa no livro.
Importante
seria que os jovens de hoje acabem também por se interessar por esse
período difícil da nossa História recente e assim poderem perceber
de onde vieram e em que condições chegaram aos dias de hoje os seus
pais, mães, e avós. A chamada "falha geracional" existe e
tem custos muito altos com reflexos na coesão e na solidariedade
entre gerações.
Como
todos teremos, certamente, consciência, Portugal está em risco de
desaparecer enquanto entidade individualizada, com perfil cultural e
histórico distinto. A forma como se vai apagando, pelo esquecimento
e pela indiferença aquilo que na história recente de mau e de bom
fizemos enquanto Povo autónomo e dono do seu destino, está a
empurrar-nos para essa já quase instalada não-existência.
É
nessa perspectiva de luta contra o relógio que se inscreve a
importância das obras que falando sobre o nosso passado colectivo
nos apuram o estado de consciência, nos devolvem o orgulho de sermos
portugueses, e nos servem de âncora para travar o processo da nossa
não-existência.
Bom
exemplo foi a sessão de lançamento de "Farda ou Fardo? Aquém
e Além-Mar em África": o calor estival, a praia, a piscina e a
esplanada não foram razões dissolventes. Não chegaram os lugares
sentados do salão da Casa da Beira Alta, no Porto. Eu vi porque
estava lá também.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------
De: Ex-Alferes-Miliciano Comando, que operou em Moçambique em anos anteriores aos nossos, e que só não veio de Lisboa à Apresentação do Livro porque sofreu um acidente de bicicleta e foi internado de urgência nessa data. É meu amigo de infância, mas, dado tratar-se de figura bastante conhecida, pretende manter o anonimato, mas está pronto para replicar a eventuais Comentários que possam eventualmente surgir perante a sua postura aqui descrita:
1
Um bom retrato do caminho
trilhado pelo “mancebo”, da recruta ao estado de “prontidão”
e posterior embarque e “comissão de serviço”, em Angola, Guiné
ou Moçambique, em ambiente de tropa de “quadrícula”.
Este “Farda ou Fardo”
poderia, muito bem, (salvo as particularidades que nele identificam e
caracterizam o autor) ser o guião para a história de múltiplos
“ex-combatentes” que cumpriram a sua “comissão” numa das
“províncias ultramarinas”.
Nessa medida, e também
pelo rigor cronológico e de descrição da “coisa militar” que
ele evidencia, penso que o livro pode constituir um bom documento
histórico, sobre o que era o serviço militar dum cidadão, no
período da “guerra do Ultramar” e com destino à tropa de
“quadrícula” numa qualquer das três “províncias em guerra”.
2
A simulação descrita,
de ataque inimigo, foi mesmo uma muito grande imprudência! Com tropa
sem experiência de combate, uma situação dessas, normalmente,
acaba muito mal. Conheci casos que, mesmo menos graves, resultaram em
mortos e feridos.
Tiveram mesmo muita
sorte.
3
Tinham razão, os seus
familiares e amigos quando se indignaram com a morte do soldado
negro.
Atirar a matar (e matar!)
sobre alguém, não inimigo, desarmado e de costas, só tem um nome:
cobarde assassinato!
O autor do “feito”
tinha que ser punido! O Bettencourt Rodrigues sai muito mal “na
fotografia”. Confirma-se a má impressão que eu tinha dele, como
militar, e resultante do tempo em que substituiu (muito mal!) o
Spínola na Guiné. O tipo não prestava mesmo.
E se o preto fosse
branco? O epílogo do acontecimento seria o mesmo? Pois…
4
O episódio do capitão
com os seus homens, perdido na savana e “salvo” por um militar
que, por acaso, até tinha uma bússola, acrescido dum bom sentido de
orientação no mato, é um dos muitos exemplos que, evidencia, bem,
como foi feita a “guerra do ultramar”, no que diz respeito à
tropa de “quadrícula”: mal preparada e mal equipada.
Tantas mortes resultantes
de fogo da nossa tropa que, sem conhecimento, flagelava ou disparava
sobre locais onde decorriam operações nossas, tantas mortes
resultantes de descuidos com armas, tantas mortes resultantes da
falta dos conhecimentos e preparação mais elementares em situação
de combate, tantas mortes, tantas mortes. Seguramente mais, do que as
ocorridas em combate…
Está, ainda, por fazer a
história das mortes, inglórias, resultantes da falta de equipamento
e preparação de combate da nossa tropa.
5
Penso que a bofetada que
deste no soldado, foi bem dada. Eu teria feito o mesmo. Já não
concordo (de todo!) com a dispensa do trabalho que lhe competia
fazer. Mas isso, sou eu a pensar na minha “pele” de alferes
comando e em situação de guerra. Ele faria o que lhe tinha
ordenado, seria punido e depois corrido da companhia.
Num quadro de guerra,
mesmo, uma insubordinação dessas, só poderia ter esse epílogo.
6
A leitura deste teu
“Farda ou Fardo”, bem como, outros fardas ou fardas que já li e
também escritos por amigos meus, trouxeram-me/trazem-me à memória,
alguns dos muitos episódios, da minha passagem pela guerra.
7
Poderia pensar-se: e que
tal, seguir o teu exemplo e de outros meus amigos que, também,
escreveram a estória da “sua” tropa, no período da “guerra do
ultramar” e deixar, também, para a “história”, a estória da
minha passagem pela guerra em África?
Não me parece boa ideia.
Os terríveis “diabos”,
que ao longo de quase cinquenta anos, têm, silenciosa e
paulatinamente, sido amarrados nas teias do esquecimento, podem
soltar-se! E isso, eu não quero, para meu descanso e sossego de
espírito.
Foram situações muito
fortes, muito duras, algumas delas a suscitar reacções que
ultrapassaram as fronteiras do comportamento dito humano, só
justificável pelo, “instinto de sobrevivência”, num ambiente
que, só entende mesmo, quem sentiu, verdadeiramente, e em pleno, a
expressão: “É para abater tudo o que mexe!” “Ou eles, ou
nós”!
8
Esses “diabos” estão,
indelevelmente, ligados aos acontecimentos, outros (camaradagem,
sentido de pertença, farras, amizades, etc.), que, também, foram
por mim vividos, no “ultramar”. Estes, com muito prazer e gozo.
9
Se pudesse só falar
destes, sem despertar os outros, os que foram “traumáticos”, e
que, para meu sossego, permanecem na penumbra do quase esquecimento,
seria óptimo, seria um prazer.
Mas, isso seria, não
falar verdade.
Seriam estórias sem a
respectiva “alma”, sem o seu indispensável contexto.
10
Por isso, talvez seja
melhor, esses “diabos”, continuarem a afastar-se do real, por
força do imparável tempo, que vai caindo sobre eles e os vai
reduzindo ao esquecimento.
Que
assim seja, para bem da minha paz de espírito.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
De Herculano Matos, Ex-Furriel-Miliciano Comando, presente na Apresentação do Livro:
Ao
amigo e camarada de armas Carlos Jorge Mota: quero dizer que acabei
de ler o teu livro «Farda ou Fardo? - Aquém e Além-Mar Em África»,
e, dessa leitura agradável, transmitir-te esta síntese: A tua
narrativa é, de facto, ótima. Apresentas provas de discursos que
ouviste na parada e dos quais juntaste agora cópias ao teu livro.
Muitas estórias com graça e humor bastante, em oposição com
outras coisas mais sérias e sofridas. A linguagem militar de
caráter técnico que utilizas é especialmente rigorosa. Não
pertenci à tua Companhia, nem ao teu Batalhão, mas, depois de
deixares a ZML em 1971, andei por lá eu, em 1973 e 1974, usando a
mesma linha férrea, a mesma estrada para Gago Coutinho, dormindo e
igualmente no quartel de Cangumbe e noutros, (antes já tinha
estado no Grafanil); olhando as águas tumultuosas do rio
Lunguè-Bungo ou pasmando-me com a imensidão do rio Zambeze na zona
do Cazombo. Recordei, igualmente, as ruas, as avenidas, os
jardins de cidades a crescer, as cubatas periféricas e muito
visitadas, o Clube Ferrovia, os cafés com esplanadas e os
cinemas, tanto do Luso como de Luanda! A rivalidade entre as diversas
especialidades e ramos militares. Pormenores e descrição só
possíveis de uma pessoa organizada, rigorosa, honesta, verdadeira e
de admirável memória! Um dia discutiremos mais a fundo este tema,
começando pelo título da tua obra literária, que vai ficar para os
sexagenários, como eu, recordarmos a «parte» da nossa guerra com o
teu testemunho, que é excelente! Parabéns! Este é o sentimento de
um ex-combatente! Um abraço! Herculano Matos
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Do "Ajax" (carta inserida aqui a seu pedido),
presente na Apresentação:
(Transcrição em letra de imprensa da Carta manuscrita do Ajax, com sua autorização, e a pedido de alguns camaradas que sentem dificuldade na leitura):
Pindelo, 28 de julho de 2014
Prezado Amigo Mota
Que este englobar de palavras te surpreenda pela positiva e com a melhor das intenções deste teu Amigo "Ajax", pois o que me levou a lançar mão à pena ("caneta") foi, após de ter acabado de ler o teu livro e não por narrativas que abordam a minha pessoa, querer dizer-te que uma vez mais é de louvar, a minha modesta forma, em meu nome e de todos os amigos que fizeram parte desse tempo e dessa era, pois fizeste-nos lembrar, embora que nunca esqueça de que apesar de ser uma guerra sem sentido, houve algo de muito bom em tudo quanto fez e faz parte dum historial que jamais alguém apagará das nossas memórias, é e será a verdadeira amizade que criámos além fronteiras com um verdadeiro leque de amigos dos bons e maus momentos que passámos todos juntos e isso vê-se e reflete-se na ansiedade que temos de nos encontrarmos, e aí, sim, poderemos dizer que somos porque fomos uma tropa de "elite" no mais alto nível de amizade que nos liga para sempre e isso é, sem dúvida, um tesouro da Companhia 2506 que seguiu o lema que não nos foi dado por acaso: "Conquistando os corações se vence a luta".
Amigo Mota: Parabéns pela narrativa do teu livro que sendo teu também é um pouco de nós.
Um abraço deste teu amigo "Ajax". Parabéns.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Do 1º Vilares (Capitão, na Reforma)
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
De: Fernando Figueiredo, Amigo e Militar do Recrutamento da Região Militar de Angola:
Olá Boa Tarde Carlos. Acabei de ler o livro "FARDA OU FARDA? - Aquém e Além-Mar em África", que me oferecestes e que parafraseando Edwin Schlossberg ”Escrever com habilidade é criar um contexto no qual outras pessoas possam pensar”, levou-me, à medida que ia lendo, a ver na minha mente, o filme do meu tempo de "FARDA" - 31.01.1971 / 01.08.1974 - E.A.M.A. (Nova Lisboa), R.I.21, R.I.20, Nabuangongo, Quipedro, Lué, momentos marcantes da nossa vida e geração. Fiquei encantado com a tua escrita e com exposições bem clarificadas , onde apenas as palavras que encontro neste momento á para te dizer. "OBRIGADO, OBRIGADO". Um Grande Abraço Amigo Carlos. - 16.7.2014
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
De: Fernando Temudo - Remetido por mensagem eletrónica, por época natalícia, relembrando facto citado no Livro:
" Mota :
Faz amanhã anos que te ofereceste para procurar a G3 perdida na picada, acompanhando o grupo formado para o efeito. De facto, era preciso ser camarada e ter coragem para participar naquela busca que durou algumas seis ou sete horas e que resultou .
Também faz hoje anos que, com o meu grupo, estávamos, a esta hora, já de volta à picada da Coutada do Mucusso, tentando chegar a horas que permitissem conviver com a "família militar" e comer uma refeição merecida , na noite de Natal. E, conseguimos chegar à tangente .
Cumprimentos, com desejos de Boas Festas .
Temudo .
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Antonio Manuel Marques Mendes - Radiotelegrafista
Batalhão de Caçadores 2872
Companhia de Caçadores 2505.
Felicitaçôes pelo excelente trabalho no livro Farda ao Fardo.
Abraço e boa continuação (2015-02.05)
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Carlos Jorge Mota