KUANDO-KUBANGO (Terras-do-Fim-do-Mundo)
No dia 1 de Janeiro de 1970, ordem de avanço para sudeste da zona do Aquartelamento,
para perto de Bambangando, para recolha dum GE (elemento dos denominados GE’s –
Grupos Especiais constituídos por nativos normalmente armados com material capturado
ao IN) que ficou doente no decurso duma operação em que estavam envolvidos naquela
área.
Saída de manhã cedo, sob o Comando do Furriel-Miliciano Temudo, mas
acompanhados também do Furriel-Miliciano Mota, que se ofereceu para a missão.
Atingidas as coordenadas fornecidas, via Rádio chamámos várias vezes
“Rola, Rola!”, “Aqui Leão!”, senhas previamente combinadas para o contacto,
mas, de “Rola”, … apenas silêncio.
Para aumentar o raio de acção de eventual contacto, apesar de
possuirmos somente um Rádio, o nosso Grupo subdividiu-se em dois e
dispersámo-nos por área mais alargada, na tentativa do som das viaturas poder
ser audível pelo Grupo do GE. Novas chamadas, porém, silêncio absoluto…
Entretanto anoiteceu, e montada a indispensável segurança, dormimos na
mata e sob chuva intensa e, pela primeira vez, utilizámos os Sacos-Cama que nos
haviam sido recentemente distribuídos.
Logo de manhãzinha nova chamada via rádio, mas … apenas silêncio.
Contactada a Base, pedindo instruções face à situação, o Comandante do
Grupo recebeu instruções para regresso imediato pois o GE em causa tinha já
sido socorrido por outros meios, por nós desconhecidos.
Chegados à Coutada de Mucusso detecta-se então que falta uma Arma
(G-3), provavelmente caída do Unimogue, talvez por entorpecimento físico do seu
responsável dado que o ronronar do motor da viatura, acumulando o cansaço e o
desgaste, a isso proporciona.
Na manhã seguinte, nova saída, mas com outro Grupo, que incorporava o
Camarada em situação complicada, em busca da Arma. Felizmente, e para alívio geral,
percorrido apenas parte do caminho em sentido inverso que esse militar tinha
feito na véspera, a G-3 foi encontrada.
Todavia, no regresso, por abatimento repentino do terreno, que
aparentava ser sólido, de um dos lados da viatura, uma Berliet virou-se e ficou
de rodas para o ar. Houve discernimento e tempo para todos saltarem com
segurança, ficando apenas o condutor dentro dela, mas, por protecção de
mão-divina, saiu incólume. Entra em acção o guincho de um dos Unimogues e a
Berliet é colocada na sua posição normal e pronta a arrancar.
Nota: Segundo se falava à época, Bambangando seria o local em Angola onde haveria maior concentração da Mosca do Sono razão por que antes de abalarmos para o Kuando-Kubango recebemos um reforço da Vacina contra esta doença.
Joaquim Costa
- então 1º Cabo de Armas
Pesadas.