INSÍGNIA E LEMA

INSÍGNIA E LEMA
CONQUISTANDO OS CORAÇÕES SE VENCE A LUTA

terça-feira, 24 de março de 2015

ZENZA DO ITOMBE - 1ª OPERAÇÃO (ENTRADA PELO NORTE) - Narração 1ª

Depois de alguns dias do início da "operação" e de grandes sacrifícios dos militares envolvidos, o objectivo principal foi alcançado. A fotografia mostra os momentos seguintes à entrada no "acampamento" inimigo que se encontrava abandonado. Somos os homens da "linha da frente".  Comigo, além do "guia", estão dois homens da minha secção de combate e, no lado direito da fotografia, o destemido e competente Enfermeiro Soares. Em breve, haverá mais fotografias (inéditas e únicas), mostrando este "acampamento ", que era enorme, bem desenhado, dispondo de refeitório  e escola. A fotografia parece ter sido mal tirada por estar escura, mas, o que se passa é que estamos em plena selva e a luz do sol mal chega ao solo, pois as árvores apertadas crescendo o mais alto que conseguem para disputar o necessário sol, provocam escuridão "cá em baixo", mesmo na força da luz do dia. Sendo assim, o "acampamento" beneficia desta camuflagem natural que o torna invisível à distância e também a partir do ar pelos "nossos" aviões. Para alcançar o "acampamento" foi preciso percorrer grandes distâncias a pé em terrenos sinuosos, por vezes com subidas íngremes, o que se traduz num verdadeiro martírio para todos os militares,  pois  há que fazer a progressão em terreno de densa mata virgem, portanto, sem trilhos. Esta  progressão, feita a passo, só é possível  com o desbravar dos arbustos a golpes de catana, contando com as mãos fortes e hábeis do "guia", por vezes ajudado por um ou dois homens nossos que se "atrevem" a usar a catana, que constitui um perigo para quem a usa indevidamente e, consequentemente, para os homens que estão por perto, dada a grande amplitude de movimentos exigida no seu uso, associada à força bruta necessária para cortar a golpes os espessos arbustos e restante vegetação envolvente. Este trabalho constante e demorado, que resulta extenuante para "os homens da frente", provoca uma sede imensa, que não se pode satisfazer devidamente pois a água é pouca (dois cantis por homem). Assim, se vai traçando um caminho onde, por falta de largura, só podem penetrar os homens em "fila indiana", com as lianas a prenderem-se nas pernas, braços e arma, fazendo como que "elásticos" que puxam o pessoal para trás, cansando e enervando, sem esquecer os inevitáveis arranhões, sobretudo nos ombros e braços, provocados pelo embate dos ramos que se têm de afastar para se conseguir  progredir. E lá se vai andando, sem fim à vista, com incontáveis mosquitos  a picarem a pele, carregando, além da arma e do restante equipamento militar, o peso das rações de combate para muitos dias e o  saco-cama (ou mantas). Ainda há que ter em conta com o que pode ser o pior inimigo: a falta de água, pois acabando-se a um homem a água dos dois cantis que cada um leva, a situação é dramática, pois pode-se não a encontrar tão cedo. Como exemplo, determinado rio constante do mapa e que se está a contar com ele para se reabastecer os cantis se achar seco quando o encontramos. Havendo um azar destes, que, aliás, acaba sempre por suceder, tudo é possível de acontecer. É verdade que um homem em desespero vai "assaltar" a bolsa de socorros do enfermeiro e beber, sofregamente, a água oxigenada. Não foi inédito na nossa Companhia. Outra situação que merece a maior atenção é a facilidade com que um grupo de homens se pode perder nesta mata, ou melhor, nesta selva, por falta de pontos de referência. Outra particularidade a realçar é o facto de a floresta se encontrar permanentemente húmida como se acabasse de ser regada. Por isso, as pernas dos homens estão sempre encharcadas. Para dormir no chão, que se apresenta molhado, o saco-cama, impermeável por baixo, veio trazer um grande conforto, permitindo também que o corpo fique satisfatoriamente protegido dos pequenos "bichos e insectos", que, no tempo das mantas (anteriormente a esta "operação" ainda passámos noites com mantas), se "passeavam" pelo corpo, toda a noite, perturbando o descanso. De dia, o calor na selva é infernal, superior a quarenta graus, com uma sensação térmica que faz sentir na pele dos homens a temperatura ainda mais uns graus acima, uma vez que o ar muito húmido não permite que o suor se evapore convenientemente, comprometendo o devido arrefecimento do corpo. Nesta "operação", incorporados também com o nosso Capitão Reis Santana, que comandou o grupo, estiveram envolvidos homens que somaram mais de dois pelotões, ou seja, não menos do que setenta homens, sem contar com os condutores das viaturas e outros militares ajudantes, que transportaram o pessoal desde o aquartelamento para o local do inicio da "operação" a pé e, posteriormente, no regresso. Na progressão, muito lenta, os homens seguem em fila, um a um. Já na parte final da "operação", ou seja, no dia do regresso à picada (que constituiu o início da "operação" a pé), onde nos aguardavam os nossos condutores e suas viaturas para nos levar de volta ao aquartelamento, quando parámos para um breve descanso, fui chamado à presença do Capitão que me deu a ordem seguinte :

(Continua)


Início - Concentração do Pessoal 
Paragem para reavaliação
Preparação para um ligeiro descanso

                                                                           Progressão


                                                                         Pausa para recompor o estômago



Fernando Temudo


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