Chegado o nosso Batalhão a Luanda em 21 de Maio de 1969, foi-lhe
atribuída a missão de controlo da rede de arame farpado que envolvia a cidade –
o então denominado Serviço à Rede -, alternando com patrulhamentos aos
musseques em busca de cidadãos indocumentados ou referenciados como elementos potencialmente
envolvidos na guerrilha.
“Maçariquitos” que éramos, logo, sem a experiência ainda que todos viríamos
a adquirir, apesar da grande preparação militar que havíamos recebido na então designada
como Metrópole (o puto, na gíria angolana), cada um no seu ofício específico,
numa das deslocações de pessoal em Berliet para distribuição pelos postos para
o lado da Barra de Quanza, uma viatura pesada, ao contornar uma rotunda, decorridos
apenas 2 meses da nossa chegada a Angola, portanto, em Julho seguinte, projectou
para o solo alguns elementos nela instalados, acidente do qual resultaram
vários feridos ligeiros, mas, também, infelizmente, alguns, poucos, com certa
gravidade, que, imediatamente, foram transportados para o Hospital Militar de
Luanda onde receberam a devida e necessária assistência.
Infelizmente, um deles, o Soldado Atirador Nunes, após um mês de internamento, e porque o seu
estado requeria cuidados especiais, foi transferido para Lisboa para o Hospital
Militar Principal na Estrela, na Capital Portuguesa, não mais regressando a
Angola.
Face a esta situação, a sua Nota de Assentos foi remetida para Lisboa
e foi abatido ao efectivo do Batalhão.
Finda a nossa Comissão em Angola, de cerca de 26 meses, em Junho de
1971, no regresso à nossa Unidade Mobilizadora, o então R.I. 2, em Abrantes, foi
entregue a cada um dos elementos do Batalhão um Livro com os elementos identificativos
de todos nós, incluindo a respectiva morada. Mas … o Nunes, porque os seus documentos militares já não
residiam no Batalhão, não constava nesse Livrinho … que viria mais tarde a ser
precioso porquanto, após o normal tempo de nojo de todas as guerras, durante o
qual todo o Combatente se quer alhear e procurar adormecer os diabinhos que lhe
entorpecem a mente, permitiu, após 19 anos de separação, reunir a Família Militar
da Companhia 2506. Mas … o Nunes cujo nome completo o tempo decorrido se
encarregou de se enevoar, que será feito dele? Estará vivo? Se sim, onde
morará?
As Confraternizações foram-se sucedendo anualmente, já desde 1990
(houve um hiato de 1992 a 1995 em cujo permeio faleceu o nosso Capitão) e ninguém sabia dizer algo sobre o Nunes. Mas eis que, por mãos amigas na camaradagem militar, alguém tem acesso ao acervo do Batalhão 2872, em cujas páginas constam todo o seu trajecto de campanha, desde o seu nascimento em Abrantes até à sua extinção, onde ficam exaradas as tradicionais Ordens de Serviço que relatam toda e qualquer ocorrência a referenciar. E, por esse miraculoso acervo, conseguiu-se saber o nome completo do Nunes (Angelino Maria Nunes) e data da sua evacuação para Lisboa.
Munidos desses elementos e sabendo-se o ano do seu nascimento – 1947 -, para a hipótese de haver nomes absolutamente iguais, diligências foram feitas para se saber do seu paradeiro, se ainda vivo. E, finalmente, fruto de alguma cumplicidade amiga, conseguiu-se agora, decorridos 49 anos, localizar este Camarada, que reside no Concelho de Almeirim (terra da Sopa de Pedra e dos bons melões).
Feita a primeira abordagem telefónica pelo Boavista, dizendo que era seu Camarada de Armas, mas não citando o nome, o homem ficou como que incrédulo e disparou logo: “és o Orlando”, nome do condutor da viatura do sinistro. “Não sou o Orlando, mas vamos visitar-te, marcas o dia conveniente para ti, e o Orlando também estará presente”.
Rapidamente o pessoal do Norte, que quinzenalmente se reúne em Almoço, articulando-se com alguns Camaradas do Sul com os quais há um contacto muito frequente, e um elemento da Covilhã cuja presença seria indispensável, providenciou pela deslocação à TASCA DO PIÇO – explorado pela família - no dia 4 de Abril último, data marcada pelo Nunes.
Bem, o resto não vale a pena relatar porque se uma foto vale mais que mil palavras várias fotos valerão centenas de milhar.
O Nunes passará a integrar-se nas nossas Confraternizações e já mandou reservar 4 lugares para o próximo dia 5 de Maio.
A título informativo, o Nunes só teve alta definitiva hospitalar, embora na fase final tivesse sido assistido de modo ambulatório, em meados de 1972.
Um bem-haja a todos os envolvidos no processo de busca bem como aos camaradas que tiveram a oportunidade de ir à TASCA DO PIÇO. Era impossível avisar todos os Camaradas, razão por que se formou um núcleo duro para esse efeito, sem protagonismo para ninguém e sem desprimor para quem quer que seja.
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A emoção não segura as lágrimas. O Mineiro, que por dever do ofício e de camaradagem, foi o que mais o marcou |
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O abraço após 49 anos |
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O elo entre os dois foi (é) muito forte |
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O Boavista, ao centro, foi quem fez o primeiro contacto |
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O Nunes, entre o Mineiro, o Orlando, condutor da viatura sinistrada, e o Temudo, seu Comandante Directo |
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Oferta do Livro FARDA OU FARDO? pelo Autor |
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O abraço pela oferta |
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Nome castiço do Restaurante |
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A sobremesa deliciosa |
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O repasto, com o Nunes e a esposa interessados na fotografia |
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Uma parte da mesa |
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A outra parte da mesa |
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13, número de sorte |
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Juntos, de novo |
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Sorriso geral |
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Não couberam todos |
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Anotando os elementos do Nunes, para o incluir no Ficheiro da Companhia |
Carlos Jorge Mota
Estive indeciso em comentar esta publicação, por razões que nem todos conhecem.
ResponderEliminarGostava, no entanto, fazer um comentário de amizade, que certamente existiu neste vosso reencontro, a que eu, embora não tivesse conhecido o Nunes, me associaria.
Não faço o comentário que gostaria, por questões menores.
Não sei quem o descobriu o Nunes, nem quem por por artes mágicas teve acesso aos documentos que levaram à sua localização, que como está descrito na publicação: "Mas eis que, por mãos cúmplices na camaradagem militar, alguém tem acesso ao acervo do Batalhão 2872". Era justo que se mencionasse, o nome de quem teve acesso a esse acervo, claro se ele concordasse, por uma questão de justiça. Vamos encontramos todos no Pombal, para um confraternização fraterna! Um forte abraço a todos os seguidores do blogue e em especial para quem tem a missão de o manter vivo.
A razão de não citação de nomes poderá ser explicada pessoalmente, mas não com indicação pública.
EliminarMota, terás as tuas razões, que eu por desconhecimento, não posso ajuizar.
EliminarEstaremos lá para esclarecer este e outros equívocos que eventualmente existir! Um forte abraço de amizade!
Já foram dadas as explicações por msg directa ao Fernando Santos, que foi perfeitamente entendida.
EliminarAlguém insinuou que eu não queria emendar a frase "mãos cúmplices" para "mãos amigas" no comentário.
EliminarNão vejo que houvesse necessidade da mudança, porque não alteraria nada.
No entanto, o problema da mudança não é esse. Depois de publicado um comentário, tanto o comentarista, como o administrador do Blogue, não podem mudar a redação, restaria apagar o comentário, entendi não o fazer, porque todas as respostas a esse comentário seriam por arrastamento eliminadas.
Quem faz essa insinuação não percebe nada do que está a dizer, deveria documentar-se primeiro com quem sabe.
Em especial para o Fernando Santos :
ResponderEliminarAcabei de ler o teu comentário escrito no dia 17 de Maio, no Blogue gerido pelo Mota, comummente designado como Blogue da 2506. Palavras tuas: - Alguém insinuou que eu não queria emendar a frase "mãos cúmplices" para mãos amigas" no comentário ... - Seguidamente apresentas as tuas razões. Porém, neste momento, não vou contrariar os teus argumentos mas, tão-só, referir que, no dia 8 de Abril, enviei-te um email onde solicitava que mudasses a supracitada redacção e apresentava as minhas razões detalhadamente. Apesar de me encontrar comprometido numa questão que acabou por envolver o Pimenta, como sabias, não me deste qualquer resposta nos dias seguintes, o que representa uma descortesia para com um velho camarada de armas. E, durante 39 dias, o teu silêncio sobre esse pedido foi total. Até ser quebrado no referido dia 17 de Maio. Este teu silêncio, que não foi inocente, prejudicou-me significativamente na questão em que estava inserido.
Considero esse teu procedimento como uma atitude "não amigável" e merecedor de censura atendendo a que és o detentor do "Grupo".
Fernando Temudo