INSÍGNIA E LEMA

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CONQUISTANDO OS CORAÇÕES SE VENCE A LUTA

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

OPERAÇÃO ZIGUE-ZAGUE

Tendo sido detectada a penetração em solo angolano de numerosos elementos guerrilheiros da UNITA durante os meses de Dezembro de 1969 e Janeiro de 1970, entre os quais estaria presente o Segundo-Comandante daquela Organização, homem hierarquicamente número dois, portanto imediatamente a seguir ao Dr. Jonas Malheiro Sidónio Savimbi, provindos da Zâmbia, por determinação do Comando de Sector da ZIL – posteriormente, em Janeiro de 1971, oficialmente alterada para Zona Militar Leste -, foi montada uma Operação denominada ZIGUE-ZAGUE, com duração de 12 dias, em 2 de Fevereiro de 1970, numa área a sul de Mavinga, no intuito da sua intercepção e aniquilamento, envolvendo apoio aéreo através de Hélis Alouette III, vários Grupos das Nossas Tropas (NT), nomeadamente GE’s (Grupos Especiais, todos nativos de Angola), Condutores da Companhia de Caçadores 2506 e por Flechas - designação atribuída a Bosquímanos, habitantes milenares daquela região kalahariana, e que (os estacionados aquém da fronteira com a Namíbia) combatiam conjuntamente com as nossas forças -, estando toda esta tropa envolvida nesta área da Operação sob o comando do Furriel-Miliciano de Transmissões Vieira Casal, da CCS do Batalhão de Cavalaria 2870, que se encontrava acompanhado dum elemento da sua Unidade, de seu nome Serafim.

Localizados os guerrilheiros, foram feitos os primeiros contactos com o Inimigo (IN), houve troca de tiros, emboscadas nossas e deles, todavia o IN, perante o ímpeto das NT, retirou, neutralizado, deixando o seu rasto, em fuga, pelo chão afora, não tendo nós a lamentar qualquer baixa das NT.

        
                                            Furriel-Miliciano Vieira Casal e o piloto do Alouette III

        Fur-Mil Vieira Casal e Agente da DGS, com Dolmen camuflado, ambos com armas capturadas ao Inimigo

Entretanto, transportado de Helicóptero, deslocou-se, em inspecção rápida ao decurso da Operação, o 2º Comandante do Batalhão de Cavalaria 2870, Major Branco Ló, integrado pela sua Escolta, que se inteirou da manobra militar realizada e dos contactos ocorridos, bem como para distribuição de mais Rações de Combate e Água.

                            Fur-Mil Vieira Casal, um Soldado e  Major Branco Ló, reflectindo sobre aspectos da Operação    

                                                    Fotografia similar à anterior, mas com a presença do Serafim 

Segundo o relato dos Flechas, era hábito dos guerrilheiros auto-golpearem os pés para não pararem a marcha, para evitarem o aprisionamento
A progressão era feita em viaturas a uma velocidade razoável, considerando as características do solo, que eram precedidas por um Pisteiro-Flecha, o qual, logo que atingisse o cansaço, era substituído por um outro dentre os que seguiam a bordo dos veículos.

                                                                                  Aspecto da Mata

Estes homens, conhecedores perfeitos daquele habitat, conseguiam aperceber-se, perscrutando o terreno, do número de elementos em fuga e do tempo entretanto decorrido.
Em dado momento, os Flechas percepcionaram que o IN se havia separado em 8 grupos, a fim de dificultar a acção das NT, desconhecendo-se em qual deles estaria o Comandante, o que inviabilizava a opção da selecção do caminho numa perspectiva de eficácia militar, para se reencontrarem do lado de lá da fronteira, em plena Zâmbia, atravessando o Rio Cuando em pirogas previamente colocadas por eles.
Posteriormente, e decorrente do ganho operacional que estes Flechas colocavam no terreno, foram constituídos mais Grupos desta Força em outras zonas da RMA, com autóctones, mas já sem bosquímanos, porque o seu número era limitado dentro de Angola.
No decurso da Operação foram destruídas Lavras, localizou-se a entrada dum túnel que dava acesso a uma enorme superfície onde estavam armazenados diversos produtos de logística, nomeadamente alimentação de milho, mandioca e outros víveres, medicamentos e material diversificado, tendo tudo sido destruído, bem como armamento e munições de diverso tipo que foram transportados, nos Unimogues, para o Posto de Comando.

      Entrada dum túnel, sendo visíveis o Carvalho, o Almeida e, de costas, um GE e o Fur-Mil Vieira Casal


A população que se encontrava controlada pelos Guerrilheiros foi entretanto libertada e transportada nas viaturas para o aglomerado do Grupo de GE’s que já estava aquartelado junto das NT na Coutada do Mucusso.
Curiosidades a apontar: a abundância de Moscas naquela área, talvez Tsé-Tsé, o entusiasmo dos miúdos – inicialmente um pouco receosos - a quem foram dadas latas de leite achocolatado e barras de amendoins incluídas nas Rações de Combate e, também, a alegria de parte dessa população ao encontrar familiares e conhecidos que já permaneciam nesse acampamento dos GE’s.
Finda a missão atribuída a todo este Grupo de actuação, inserido na Operação ZIGUE-ZAGUE, as Forças regressaram às suas respectivas Unidades para prossecução das tarefas quotidianas, mas sempre em prontidão para novas acções que lhes fossem eventualmente atribuídas, novas Operações inclusive, nesta área geográfica ou em outras mais alargadas.
No regresso deste Grupo, surgiu, entretanto, um contratempo. Um pneu dum Unimogue sofreu um furo e, para azar, o seu sobressalente já havia sido utilizado na substituição dum outro anterior que também furara.
Uma vez que a distância à base era relativamente curta, no estilo tipicamente militar, rapidamente se tomou a decisão de o Unimogue operacional, conduzido pelo Carvalho, se deslocar lá, com uma pequena escolta de GE’s, para recolha dum pneu funcional, e assim se solucionou a questão, após o reencontro no ponto de paragem temporária.

                                                           Condutores Carvalho e Almeida


Em áreas mais alargadas, mas não muito distantes entre si, outros Grupos de Combate da Companhia de Caçadores 2506, sob a coordenação do Alferes-Milicano Armando Madureira, cuja Especialidade era Operações Especiais, estavam também envolvidos nesta grande Operação ZIGUE-ZAGUE, nomeadamente em acções de nomadização, montagem de emboscadas e golpes-de-mão. Todos regressaram ao Aquartelamento sem baixas a assinalar.
A Operação Zigue-Zague citada teve uma duração de 12 dias, englobou efectivos equivalentes no seu todo a cerca de 16 Grupos de Combate, repartidos em grupos de 20 homens, para facilidade de manobra.
Esta narrativa reporta-se unicamente à acção do Grupo aqui envolvido uma vez que, por razões de honestidade intelectual, quem a vivenciou não deverá fazer descrições do que não presenciou. Todavia, como já atrás foi dito, a área que consubstanciava a Operação era muito alargada e com outras tropas a operar no terreno.


Nota:
Durante muito tempo germinou na mente do Camarada Manuel Carvalho a passagem para o papel de lembranças desta Operação em que interveio como Condutor, todavia, com receio de imprecisão ou omissão, nunca o fez.
Sabendo que quem tinha comandado este Grupo havia sido o Furriel-Miliciano de Transmissões da CCS do Batalhão de Cavalaria 2870, numa das várias Confraternizações em que pessoal da Companhia de Caçadores 2506 se fez representar, resolveu, porque já não o conseguia reconhecer após mais de meio século, pelas transformações fisionómicas que inevitavelmente todos sofremos, indagar quem era esse Camarada que provavelmente estaria ali presente. Encontrado o Vieira Casal, imediatamente se trocaram impressões, se desvaneceram dúvidas, se complementaram fotografias, se fez luz suficiente para que a Narração surgisse, solicitando ajuda, sempre disponível, do “escriba de serviço” Camarada Carlos Jorge Mota.

Carlos Jorge Mota

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