Em
princípios de outubro de 1968, acabada a Especialidade de Serviço de
Administração Militar, na Póvoa de Varzim, sai em Ordem de Serviço a minha
Mobilização, feita pelo R.I. 2 (Regimento de Infantaria 2, em Abrantes), integrado
na Companhia de Caçadores 2506 pertencente ao Batalhão de Caçadores 2872, em
formação naquela Unidade. Fiquei logo a ela adstrito, todavia, como a minha
presença era dispensável no período da Recruta e Formação do Pessoal do
Batalhão a constituir, face à especificidade da minha Especialidade, recebi
Guia de Marcha, em Regime de Diligência, para o R.A.L. 5 (Regimento de
Artilharia Ligeira 5), em Penafiel, em cujo Conselho Administrativo comecei a
desempenhar funções e cujo Chefe era o meu amigo de infância Francisco Santos, já
licenciado entretanto em Economia. Lá apresentado, e com outros camaradas
também recém-chegados, logo surge o Furriel Miliciano Pequito a convocar-nos
para uns crosses e Aplicação Militar.
Corremos 8 Kms, bem suados, e, em fato de ginástica, em plena praça frente ao
Quartel, gramámos ali uns 50 minutos no duro. Viemos a perceber depois que se
tratava de uma praxe de que ele fora encarregado. Homem sempre bem disposto,
contador de piadas consecutivas. Mais tarde, com um mês de África, venho a
saber que ele faleceu num brutal acidente de automóvel quando se dirigia para a
Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas, onde entretanto fora recolocado
para dar Instrução.
Não
me recordo do nome do Comandante à altura do RAL 5, mas lembro-me que o 2º
Comandante era o então Major Rolando Tomás Ferreira, que veio a ser Adjunto do
meu Comandante de Companhia lá, Capitão Eurico Corvacho, aquando do 25 de Abril,
no momento em que ele, graduado em Oficial General, era o responsável, nesse
período, pela Região Militar Norte, e era também membro do Conselho da
Revolução.
O
meu serviço era de natureza administrativa, leve, portanto, mas estava
submetido à escala de Serviço à Unidade, como os demais Graduados. Entretanto,
na minha perna esquerda surgem uns papilomas (verrugas) cujo diagnóstico foi
logo feito, por análise laboratorial: “moluscum
contagiosum”. Nada de importante, mas o nome mete respeito. Um deles
emergiu no tornozelo, o que me dificultava calçar a bota. Mas, como
negligenciei durante algum tempo, ele inflamou e formou-se uma ferida
completamente redonda, que ulcerou. Como se aproximava o dia em que, por Escala,
entraria de Serviço, fui ao Médico da Unidade para atestar a situação e me
poder isentar dele, porquanto, por razões regulamentares, estava impedido de
fazer o serviço de sapatos. A sua reação foi estranha, chocante, até: “essa ferida não vai fechar mais. Tem que ir
já para o Hospital Militar”. Entro em “parafuso”. E vejo-me, de repente,
metido numa Ambulância Militar rumo ao Hospital Militar Regional nº 1, no
Porto.
Com o França, meu conterrâneo, que R.A.L. 5, hoje ocupado pela GNR
viria a ser colega, mas no BBI, falecido
muito novo, de ataque cardíaco
Tratamento
à base de pomadas várias, mas “aquela treta” não cicatrizava mesmo. Passaram 15
dias e melhoras … nenhumas. Até que me aplicaram uma nova, milagrosa, de seu
nome Halibut, e logo tudo se
recompôs.
Minha
irmã tinha acabado de ser mãe e queria-me como padrinho da filha, Delfina
Alexandra (Xana), nome já registado. E como, se eu me encontro internado? Não
estando ainda curado mas já em vias disso, aproveitou-se então uma coincidência
proveitosa: uma amiga e ex-vizinha de mocidade, de seu nome Fernanda Matos, a
conhecida Teresinha do filme Aniki-Bóbó, primeira obra do grande
Manoel de Oliveira, trabalhava, como Enfermeira, num Posto de Previdência onde
também exercia funções clínicas o médico que acompanhava o meu problema no H.M.,
embora ele fosse civil. Falou-se-lhe na questão e ele logo resolveu: deu-me
alta e entrei em regime de convalescença, em casa, por uns dias, onde continuei
o tratamento, mas já estava praticamente curado.
Apresento-me
de novo na Unidade e retomo as funções já previamente definidas. Meu último
Natal antes do embarque e, para azar dos azares, calha-me, por escala, Serviço
de 24 para 25 de dezembro. Não consegui troca com ninguém. Talvez se estivesse
presente alguém das Ilhas Adjacentes tivesse conseguido esse desiderato … E a
rotina manteve-se até à noite de 27 para 28 de fevereiro de 1969. Tendo acabado
de Fazer a Ronda, inclusive ao paiol que ficava no exterior do Quartel,
precisamente às 02:40 da madrugada, abaixo-me para me sentar na cama para
descansar um pouco, fardado e calçado, obviamente, e começo a ouvir um silvo
horripilante, provindo de debaixo da terra, a aumentar brutalmente de
intensidade, parecendo milhões de comboios. Lembrei-me logo do filme A Rua de Delfim Verde, onde era
tipificado um Tremor-de-Terra. Não cheguei a sentar-me, levantei-me de supetão.
Fiquei calmo, para minha surpresa, quando tudo começou a estremecer. E, para
meu espanto, dos camaradas que estavam a dormir, só um acordou. A população da
cidade veio para a Rua, apavorada, algumas senhoras aos gritos. Conforme o
silvo soou na aproximação, atingindo o seu clímax sob os nossos pés, foi
exatamente o mesmo som no afastamento, mas agora baixando lentamente, até
desaparecer.
Carlos Jorge Mota
Caro Carlos Jorge Mota
ResponderEliminarÉ muito bem-vindo este blogue da Companhia Irmã 2506.
Parabéns
João Merca
Em meu nome pessoal e da Companhia de Caçadores 2506 agradeço a atenção que tiveste connosco.
ResponderEliminarParabéns
ResponderEliminarUm Abraço
João Merca
Meu Caro
ResponderEliminarParabéns por mais esta iniciativa.
Aquele Abraço
J Merca