INSÍGNIA E LEMA

INSÍGNIA E LEMA
CONQUISTANDO OS CORAÇÕES SE VENCE A LUTA

sábado, 29 de março de 2014

VI - EM LUANDA. ATÉ QUANDO?

Luanda estava cercada por uma Rede de Arame Farpado, interrompida, apenas, nas três estradas que dela irrompiam: Estrada do Cacuaco (rumo ao Distrito do Zaire ou Congo e também ao Distrito de Uíge, na sua parte noroeste), Estrada de Catete (para o planalto central e para toda a restante zona angolana, tomando as respetivas vias nos locais apropriados com as suas várias derivações) e a Estrada da Barra do Quanza, rio junto do qual terminava, pois, na altura, ainda não existia a atual ponte que permite agora todo o tráfego para sul, nomeadamente o da zona costeira. Pouquíssimas pessoas civis saberiam da existência dessa Rede, dado que não era visível das estradas -  o mato a encobria. Ela, sob o ponto de vista militar, tinha a dupla função de impossibilitar a penetração na cidade de indocumentados – nos postos colocados na via, por vezes, e duma forma aleatória, as viaturas eram mandadas parar para efeito de controlo – e também de dissuadir eventuais ações de guerrilha urbana dado que a subsequente retirada para o Mato se tornaria muitíssimo dificultosa. Para nós, recém-chegados, ainda branquinhos, era uma tarefa sem risco, apenas cansativa pois o serviço era feito 24 horas ininterruptas, com alternância das Companhias do Batalhão nesta missão e na de patrulhamento. O perímetro de arame-farpado continha Postos de Vigia e uma picada por onde se deslocavam as viaturas, quer para transporte do pessoal quer para ronda. Logo no primeiro mês, uma Berliet que se deslocava para o posto na Estrada da Barra do Quanza, ao contornar uma rotunda, o seu condutor descontrolou-se e houve pessoal cuspido, do que resultaram vários feridos alguns dos quais bastante graves e cuja evacuação para Lisboa houve necessidade de fazer e que não regressaram mais.
Luanda, portanto, sempre à vista. Finda a ação rotineira diária no Campo do Grafanil, com exceção dos dias de Serviço à Companhia, apanhávamos a Camioneta Militar para o centro da cidade e eu dirigia-me de imediato para a casa do “Tio Tono” com cuja família, aos fins-de-semana, acompanhado do sobrinho meu amigo e camarada Fontes, íamos amiúde fazer uns piqueniques para matagais próximos à praia.
                            
 Piquenique
Helena, Zé António e Manel, da família Vasconcelos
                                                                          
 Como, durante a minha infância, a família Vasconcelos, com cujos filhos Zé António e Manel eu brincava – curioso que esta família morava na casa que foi posteriormente ocupada pela família da que viria a ser minha namorada e mulher –, foi para Angola, eu tive o cuidado de ir munido do seu endereço em Luanda. Moravam na Rua António Enes, nas Barrocas, para os lados de Miramar. Fui procurá-los e voltámos a reencontrar-nos passados tantos anos. Foi emocionante, pena que fosse naquelas circunstâncias, mas houve oportunidade para alguns convívios.
Entretanto, no mês de junho, veio para Luanda, em férias, e encontrava-se a meio da sua Comissão, o meu amigo e irmão dum meu cunhado, Zé Albertino. Como eu tinha levado um Gravador Telefunken, grande, mas portátil, tinha uma pega, resolvemos encontrar-nos na pensão onde ele se hospedou, junto ao Largo de Serpa Pinto. Fizemos uma gravação de mensagem, a dele separada da minha, e eu enviei a bobine para as nossas famílias que, posteriormente, gravaram também as suas e ma devolveram. Hoje, passados mais de 40 anos, e o Zé Albertino já não está entre nós, consegui transformar essas gravações, separando as duas, e digitalizá-las. Entreguei uma cópia em CD aos seus dois filhos e ao meu cunhado, seu irmão. Para os da minha família, entreguei cópia a cada uma das minhas irmãs e aos dois filhos do meu falecido irmão. É emocionante ouvir hoje aquelas vozes, num total de cerca de 20 pessoas, metade das quais já faleceram. Fica a recordação.

E a rotina diária era quotidianamente retomada. Parecia até que não tinha ido para a Guerra. Mas, eis que chega a notícia do fim desta etapa. E nova aventura irá ser iniciada …

Carlos Jorge Mota

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