Em
pleno mês de fevereiro de 1971, encontrando-me eu de férias, vejo o Capitão
Santana parar o “seu” jipe à porta da “minha” casa. Entrou, cumprimentou e
disse-me: “Mota, preciso de um favor seu”.
“É de caráter militar ou particular?,
perguntei. “Se for militar, atenção que
eu estou de férias; se for particular, faça o favor de dizer do que se trata!”
digo eu. “É um misto das duas coisas”,
retorquiu logo. “Você sabe que o Silva (Cabo
Corneteiro) se perdeu de amores com uma
mulatinha e eu sei onde ele está, fui informado. Está lá para a Lunda mas eu
tenho a indicação do local exato. Vamos buscá-lo antes que passe o tempo de o
gajo ser considerado desertor. Estamos já quase no fim da Comissão e eu não
quero ver um homem meu com a sua vida estragada por causa dum caso destes”.
Dia
seguinte, estou de camuflado vestido e de G-3 na mão, e, à hora marcada, o
Capitão Santana pára o jipe. Vem acompanhado de outro Santana, mas do Pires
Santana, Alferes do Recrutamento Local, que veio substituir um outro que, tendo
vindo de férias à então Metrópole, deu baixa ao Hospital Militar da Estrela, em
Lisboa, e não mais regressou ao nosso seio.
A
estrada para o Distrito da Lunda (agora há duas Lundas, foi feita divisão),
cuja capital é Henrique de Carvalho (denominada atualmente Saurimo), é
alcatroada, mas entre o Luso e a localidade do Buçaco era uma área de forte
ação inimiga razão por que, entre aqueles dois locais, obrigatoriamente toda a
viatura civil tinha que fazer o trajeto em coluna devidamente escoltada por
militares.
Esperámos
pela sua formação e o Capitão Santana falou com o Comandante da Escolta, um
Furriel, e transmitiu-lhe que o jipe se iria incorporar na coluna mas que
viajávamos por nossa conta e risco.
Estrada Luso/Henrique de Carvalho |
Chegados
a Dala, pernoitámos no quartel de lá depois do Cap. Santana ter falado ao
Oficial-de-Dia à Unidade. O Capitão teve aposento melhorado, pois eu e o Pires
Santana deitámo-nos numa arrecadação e dormimos no saco-cama que levávamos,
numa completa escuridão, e com a arma ao lado. De noite, sou acordado com uma
voz a gritar, ao meu lado: “eles aí vêm,
eles aí vêm!” Apuro o ouvido e nada de anormal ouço. Acordo-o então com uma
cotovelada, pois o Pires Santana estava a sonhar alto …
Já que ali estávamos, disse ao Capitão Santana: “meu Capitão, por que não vamos ver as
famosas Quedas do Dala? É uma oportunidade única!”. “Vamos lá, pá!”, disse logo.
Quedas do Dala |
Fomos ao quimbo (musseque) que o Capitão tinha referenciado, não encontrámos o Silva, porque ele tinha saído de momento. Deixámos recado … e ele apareceu na BTR ao terceiro dia. Levou um raspanete e ficou com um castigo leve, sem registo escrito. Agradeceu a nossa atenção dum modo que me emocionou.
Carlos Jorge Mota
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